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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Banalização do uso de agrotóxicos


O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. E dos 50 produtos mais usados no país, 22 são proibidos na Europa e EUA. Com esses números é fácil perceber que estamos usando errado e em excesso. Mas preocupa muito também a banalização do uso dos venenos e a forma descuidada como eles têm sido empregados.

Recentemente um avião de pulverização agrícola contaminou 37 pessoas, sendo 29 crianças, em uma escola rural em Goiás. Todos apresentaram coceiras, vômito e irritação nos olhos. Esses sintomas visíveis são os menos graves, pois os agrotóxicos podem causar problemas neurológicos, respiratórios, má-formação fetal, puberdade precoce, disfunções no fígado, nos rins e até câncer. Como será o futuro dessas crianças que receberam uma chuva de veneno durante 20 minutos? Não se sabe se a escola foi pulverizada por engano ou se o vento levou o produto.

Segundo dados da Embrapa, mesmo em condições ideais, apenas 32% do produto fica nas plantas, 49% caem no solo e 19% nas áreas vizinhas. E o agrotóxico nem era autorizado para pulverização aérea nem registrado para o milho. A legislação é frágil e a fiscalização é precária.

A cada ano, no Brasil, mais produtos têm a aplicação por avião proibida e depois são banidos, mas isso é muito lento e insuficiente. Vários estados têm discutido a proibição da pulverização aérea e alguns locais já conseguiram. No Paraná, o deputado Luiz Eduardo Cheida (PMDB) encaminhou em 2012 um projeto de lei com esse intuito, que foi barrado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e recém-arquivado.

A pulverização de inseticidas sobre as pessoas se tornou tão banal que poucos se dão conta. O “fumacê”, por exemplo, não recomendado pela OMS, é veneno pulverizado sobre os cidadãos. Mata adultos do mosquito na hora, enquanto milhares de novos adultos emergirão no dia seguinte. Mas as pessoas já terão recebido o veneno na pele e em seus pulmões. Será esse um saldo positivo?

Quem vai de avião para a Argentina recebe pulverizações de agrotóxico dentro da aeronave fechada. A comissária diz que o produto é inócuo, claro, e todos respiram sem a menor preocupação. E o uso generalizado nas casas? Na dedetização? Nas plantas do jardim? Nos terrenos baldios? É a primeira opção. Qualquer inseto que apareça já recebe uma borrifada de veneno. O inseto e mais a pessoa que pulveriza, as crianças que estão em volta, que muitas vezes brincam no chão, os animais, a água.

Agrotóxicos não são produtos de limpeza e nem remédios. São venenos. Seu uso continuado promove a contaminação crônica de adultos e crianças. Assim como para o cigarro, os comerciais para seu uso doméstico deveriam ser proibidos, pois induzem as pessoas a acharem que estão se protegendo. É preciso que cada cidadão se conscientize desses riscos para escolher, com o necessário cuidado, as práticas que utiliza em seu dia a dia e passe a exigir das autoridades medidas de proteção responsáveis e mais ágeis.

*Sueli Martinez é bióloga, PhD em Entomologia

Fonte: Jornal de Londrina

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