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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Monsanto deverá pagar R$ 500 mil por propaganda 'enganosa'


A Monsanto do Brasil terá de pagar R$ 500 mil de indenização por danos morais por causa de uma propaganda, veiculada em 2004, em que relacionava o uso de semente de soja transgênica e de um herbicida (agrotóxico) como benéficos ao meio ambiente, segundo informou nesta terça-feira a 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). Cabe recurso da decisão.

Segundo o tribunal, a empresa de biotecnologia também foi condenada a divulgar contrapropaganda "esclarecendo as consequências negativas que a utilização de qualquer agrotóxico causa à saúde dos homens e dos animais". A contrapropaganda deve ser veiculada com a mesma frequência e, preferencialmente, nos mesmos veículos, locais, espaços e horários da propaganda que originou a ação e dentro de 30 dias após a publicação da decisão do TRF4. Em caso de descumprimento, a multa diária prevista é de R$ 10 mil.

O TRF4 afirma ainda que o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou a ação contra a Monsanto, alegando que o comercial era "enganoso" e que o objetivo da publicidade era "preparar o mercado para a aquisição de sementes geneticamente modificadas e do herbicida usado nestas, isso no momento em que se discutia no País a aprovação da Lei de Biossegurança, promulgada em 2005", diz a nota da Justiça. Para o MPF, não há certeza científica se a soja vendida pela Monsanto realmente requer menos herbicida.
Segundo o tribunal, na campanha havia uma conversa entre pai e filho, na qual o primeiro explicava o que significa a palavra "orgulho". "Orgulho é o que eu sinto quando olho essa lavoura. Quando eu vejo a importância dessa soja transgênica para a agricultura e a economia do Brasil. O orgulho é saber que a gente está protegendo o meio ambiente, usando o plantio direto com menos herbicida", diz o TRF4 em referência à publicidade.

No processo, a empresa argumentou que a campanha tinha fins institucionais e não comerciais e que o comercial dirigia-se aos agricultores de Passo Fundo (RS) com objetivo de homenagear o pioneirismo no plantio de soja transgênica, que utilizaria menos herbicida e preservaria mais o meio ambiente, de acordo com a empresa.
Para o desembargador federal Jorge Antônio Maurique, "a propaganda deveria, no mínimo, advertir que os benefícios nela apregoados não são unânimes no meio científico e advertir expressamente sobre os malefícios da utilização de agrotóxicos de qualquer espécie". Segundo o tribunal, quando veiculada a propaganda, a soja transgênica também não estava legalizada no Brasil.

Procurada pela reportagem, a Monsanto ainda não se pronunciou.


Noticia relacionada: 

Justiça põe freio nos transgênicos

Para aprofundar:

O MUNDO SEGUNDO A MONSATO

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Dilma institui a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica





Tânia Rabello (*)

O governo federal deu mais um passo em favor da sustentabilidade na agricultura e pecuária. Instituiu, por meio do Decreto 7.794, de 20 de agosto de 2012 e publicado hoje no Diário Oficial da União, a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo), com o objetivo de integrar, articular e adequar políticas, programas e ações indutoras da transição ecológica e da produção orgânica e de base agroecológica, contribuindo, como diz o decreto, “para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida da população, por meio do uso sustentável dos recursos naturais e da oferta e consumo de alimentos saudáveis”.

A partir do momento em que isso vira política oficial, acredita o produtor rural e presidente da Câmara Temática de Agricultura Orgânica, Romeu Mattos Leite, da Yamaguishi, produtora de ovos, hortaliças e frutas em Jaguariúna, região de Campinas (SP), é possível unir esforços, dentro das instituições oficiais, para traçar uma linha comum de ação em relação à agroecologia. “Hoje esta política é desconectada entre os ministérios que tratam do tema, como o da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; o do Desenvolvimento Agrário e também o do Meio Ambiente, além de autarquias como a Conab e a Embrapa”, explica Leite. “Agora há a disposição oficial da própria Presidência da República em tornar a agroecologia uma política efetiva; é um grande avanço, pois o governo reconhece e firma o compromisso de ter a agroecologia como um instrumento poderoso de transformação rural”, conclui.

Conforme Leite, o próximo passo será instituir um Plano de Ação, que reunirá, num conselho gestor, 14 membros da sociedade civil e 14 membros do governo e será diretamente coordenada pela Secretaria-Geral da Presidência da República. O grupo responsável pela elaboração do plano deve se reunir em breve, acredita Leite. “Será um plano bem abrangente, que tratará da produção, da formação de técnicos em agroecologia, de gestão de áreas protegidas, etc.”, descreve o presidente da Câmara Temática, que contará, também, com a contribuição das várias Comissões da Produção Orgânica distribuídas nos Estados.

Para a elaboração da Política Nacional de Agroecologia, Leite comenta, aliás, que várias discussões, desde o segundo mandato do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vêm sendo realizadas. “Foi um processo bastante rico; tivemos várias oficinas regionais, promovidas pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), das quais participaram mais de 400 pessoas; nas CPOrgs, mais de 300 pessoas discutiram o tema também”, conta.

A Política Nacional de Agroecologia estava prevista para ser lançada na Rio+20, mas por causa de alguns cortes importantes feitos no texto, pela Casa Civil, o lançamento teve de ser adiado. Entre os cortes, Leite destaca a criação de áreas livres de transgênicos e aplicação de agrotóxicos, em torno de unidades de conservação, além da criação de um fundo específico para a adoção da PNA e também a paridade de investimentos, na Embrapa, para pesquisa em agroecologia e em agricultura convencional. “Foram cortes importantes”, diz Leite, acrescentando, porém, que 70% do inicialmente proposto foi mantido no decreto presidencial. Quem quiser fazer sugestões para o plano que será elaborado pode entrar em contato com Romeu Mattos Leite pelo e-mail romeu@yamaguishi.com.br.

(*) publicado originalmente em:
http://www.portalorganico.com.br/noticia/103/dilma_institui_a_politica_nacional_de_agroecologia_e_producao_organica

Veja o decreto:
http://www.portalorganico.com.br/noticia/103/dilma_institui_a_politica_nacional_de_agroecologia_e_producao_organica

domingo, 19 de agosto de 2012

Pesquisadores do RJ investem e ganham espaço com os orgânicos


A fazendinha agroecológica fica no município de Seropédica ao lado dos imponentes prédios da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Ela é mantida pela Embrapa, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e a Pesagro, Empresa de Pesquisa do Estado, e produz principalmente verduras e legumes.

A área pertence ao Centro Nacional de Agrobiologia da Embrapa e foi criada há quase 20 anos pelos engenheiros agrônomos Dejair Almeida e Raul de Lucena Ribeiro. Em 1998, o Globo Rural mostrou as pesquisas realizadas por eles com a produção de hortaliças orgânicas. Quatorze anos depois, a fazendinha se transformou em um centro de formação em agroecologia e agricultura orgânica, com curso de mestrado coordenado pela Universidade Rural.

O principal desafio dos novos pesquisadores da fazendinha é gerar conhecimentos para atender as exigências da lei que rege a produção orgânica no Brasil. Quando se pensa em produção de hortaliças, logo se pensa em esterco animal ou adubo químico. Mas, pela Lei dos Orgânicos isso não é permitido, como explica o engenheiro agrônomo Ernani Jardim da Embrapa.

“Se você traz o esterco lá de fora, muitas vezes o pecuarista, o avicultor, ao cuidar dos animais usa remédios, produtos químicos, que são utilizados no sistema de produção. Quando ele vem pra cá, ele vai se concentrando nesta área de produção de hortaliças”, afirma.

A única exceção é o esterco produzido pelos criadores de animais que não usam produtos químicos e que sejam certificados como orgânicos, mas essa produção ainda é muito pequena. Para substituir o esterco, a fazendinha está usando adubação orgânica de origem vegetal.


“Nós usamos uma espécie chamada Gliricidia sepium, que contribui principalmente com o ingresso de nitrogênio dentro da unidade de produção. Além disso, utilizamos o capim elefante, que é uma outra fonte de biomassa”, explica José Guilherme Guerra, agrônomo – Embrapa.

O capim é triturado com a mesma picadeira usada para fazer forragem. Depois é amontoado ao ar livre. A finalidade é a produção de substrato para a produção de mudas de hortaliças. Para cada 95 kg de capim picado deve-se misturar 5 kg de torta de mamona. No início é bom molhar o material. Depois é só aguardar de 90 a 100 dias para completar o processo. O substrato pode substituir o humos, feito com esterco de curral e usado nos viveiros de mudas.

Outro insumo fundamental na produção de hortaliças orgânicas é o bocashi. Um composto de resíduos vegetais também obtido por fermentação. Ele é rico em macro e micro nutrientes. Para fazer 200 quilos do composto são necessários: 60 quilos de farelo de trigo e 40 de torta de mamona. Depois eles despejam dois litros de um produto chamado: EM em 20 litros de água.

O EM é uma mistura ativada de bactérias e leveduras, que se encontra facilmente nas lojas de insumos orgânicos. Depois é só umedecer a torta e o farelo aos poucos sempre misturando. O material é bem compactado dentro dos tambores e antes do fechamento é preciso colocar um plástico para vedar bem. Ele fica armazenado por três semanas.

Para iniciar um plantio de hortaliças orgânicas é preciso fazer a correção do solo com calcário e afofar bem a terra. Se o plantio for de mudas é só fazer as covas e colocar as plantas no canteiro. Dois dias depois, espalha-se o bocashi a lanço no meio das mudas. Depois vem o capim e a gliricídia, ambos picados com pelo menos três dias de antecedência. A mistura é meio a meio. O material é usado como cobertura morta. Isso é fundamental para proteger e ativar a vida do solo.

Quem produz hortaliças orgânicas tem que planejar muito bem a época de plantio de cada cultura para evitar as pragas e doenças. No caso das folhagens, o problema principal é o pulgão, que suga a seiva e acaba matando as plantas. Ao invés de aplicar veneno a estratégia do pessoal da fazendinha é atrair o principal inimigo natural do pulgão: a joaninha. Ela é capaz de comer dezenas deles em um dia.

Um canteiro de coentro bem no meio da horta atrai as joaninhas. “Quando ele começa a florescer, ele oferece néctar e pólen, que é um alimento completar para as joaninhas, enquanto ela não encontra a sua presa principal, que são as pragas”, explica Maria Gabriela da Mata, Agrônoma - Embrapa. Quando termina a fase de floração do coentro as joaninhas voam para as outras verduras a cata dos pulgões.



Além do controle biológico é preciso também lançar mão dos defensivos autorizados para uso na agricultura orgânica, como a calda borbalesa que serve para combater os fungos do tomateiro. Hoje já é possível dizer que existe informação científica para cultivar qualquer hortaliça sem o uso de veneno. “Quando a gente faz agricultura orgânica, tem que considerar vários fatores. A época adequada para plantar, as condições ambientais, uma variedade que tenha bastante resistência e esse somatório todo é complementado com os defensivos alternativos”, comenta Alexandra de Carvalho Silva, agrônoma – UFRJ.

Mas existem pragas como as lagartas da broca e da traça para as quais não existem remédios. O jeito é construir estufas de tela fina para evitar a entrada das mariposas que colocam os ovos das lagartas na flor do tomateiro.

Para a produtora Isabel Yamagushi, que produz hortaliças orgânicas na região, o maior desafio é conviver com os fungos e as lagartas. “A agricultura orgânica tem nos proporcionado uma venda certa. Na feira, um tomate grande, pra salada, gira em torno de R$ 10 o quilo. O produto orgânico é mais caro porque há uma perda enorme”, explica.
Parte da produção de Yamagushi é feita ao ar livre, onde ela não pode controlar a água nem pragas. O excesso de umidade é a principal causa dos fungos que atacam sua plantação. Eles seriam mais fáceis de controlar se o plantio não fosse feito ao ar livre, mas o custo para manter uma estufa é maior.

Além de feiras, no Rio de Janeiro existe outro mercado para os orgânicos. São os restaurantes de alta cozinha. Produtores e empresários fazem parcerias de sucesso. “Para os produtores é importante, porque nós colhemos um produto que já vem vendido. Não existe aquela dúvida de levar até um local, sem saber se vão ficar”, explica o produtor.
Para receber um folheto com receitas de defensivos alternativos, permitidos para uso na agricultura orgânica, escreva para a Pesagro. O folheto é grátis.
Pesagro
Alameda São Boaventura, 770
Niterói, Rio de Janeiro
Cep: 24120-192

Para ter acesso ao conteúdo direto da fonte e  ao vídeo com a reportagem acesse:

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Coquetel’ de agrotóxicos ingerido no consumo de frutas e verduras pode causar Alzheimer e Parkinson

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Audiência sobre Agrotóxicos Realizada na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados


Fala de Cléber Folgado, coordenador nacional da campanha contra os agrotóxicos e pela vida, na Audiência sobre Agrotóxicos Realizada na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, no dia 9 de maio de 2012.

Cléber Folgado fala sobre alguns mitos relacionados ao uso seguro de agrotóxicos e o mito da produtividade que justifica o aumento do uso de agrotóxicos.

A fazenda Native em São Paulo - a maior produtora de açúcar orgânico do mundo tem a produtividade superior em 10% em relação  a convencional.

Uma das lutas da campanha nacional contra os agrotóxicos é a proibição das pulverizações aéreas pelo grande impacto ambiental e o banimento imediato dos agrotóxicos banidos em outras países que fazem com que o Brasil se torne um grande lixeira tóxicas.





Para aprofundar:

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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

‘Coquetel’ de agrotóxicos ingerido no consumo de frutas e verduras pode causar Alzheimer e Parkinson





Comer cinco frutas e legumes por dia é bom para a saúde. Não tão bom é o “coquetel” de pesticidas ingerido no processo: a mistura dessas substâncias químicas pode multiplicar seus efeitos tóxicos em proporções tão surpreendentes quanto preocupantes, segundo os resultados de um estudo preliminar [A Preliminary Investigation into the Impact of a Pesticide Combination on Human Neuronal and Glial Cell Lines In Vitro] publicado na revista científica “PloS One”. Matéria [L'inquiétant effet cocktail des pesticides sur nos cellules] de Grégoire Allix, Le Monde, no UOL Notícias.

Os testes toxicológicos sistemáticos conduzidos dentro do regulamento europeu Reach visam às substâncias uma por uma. “Sabe-se muito pouco sobre seus efeitos combinados, sendo que somos literalmente cercados por combinações de venenos”, explica o principal autor do estudo, o toxicólogo Michael Coleman, da Universidade de Aston, na Inglaterra.

Sua equipe comparou o efeito isolado e o efeito combinado, sobre células de nosso sistema nervoso central, de três fungicidas encontrados com frequência nas prateleiras de hortifrúti: o pirimetanil, o ciprodinil e o fludioxonil.

Resultado: os danos infligidos às células são até vinte ou trinta vezes mais graves quando os pesticidas são associados. “Substâncias que são conhecidas por não afetarem a reprodução humana e o sistema nervoso e não serem cancerígenas, combinadas possuem efeitos inesperados”, resume um dos autores do estudo, o biólogo molecular Claude Reiss, ex-diretor de pesquisa do CNRS e presidente da associação Antidote Europe.

“Observamos o agravamento de três tipos de impactos”, detalha o pesquisador francês: “A viabilidade das células é degradada; as mitocôndrias, que são as ‘baterias’ das células, não conseguem mais alimentá-las com energia, o que desencadeia a apoptose, ou seja, a autodestruição das células; por fim, as células são submetidas a um stress oxidante muito poderoso, possivelmente cancerígeno e que pode levar a efeitos em cascata”.

Entre as possíveis consequências de tais agressões sobre as células, os pesquisadores citam o risco de uma vulnerabilidade crescente a doenças neurodegenerativas como o Mal de Alzheimer, de Parkinson ou a esclerose múltipla. “Nosso estudo aborda um pequeno número de substâncias, trazendo mais perguntas do que respostas, mas esses efeitos foram evidenciados em doses muito pequenas, concentrações próximas às encontradas em nossos alimentos”, observa o professor Coleman.

O cientista considera urgente popularizar esse tipo de teste, apesar das milhares de combinações possíveis: “Isso permitiria determinar se as misturas são nocivas, para ajudar os agricultores a escolher os produtos que eles utilizam”. O fato de conduzir esses estudos em células humanas e não em ratos, como acontece no procedimento Reach, permitiria diminuir os prazos e os custos, ao mesmo tempo em que fornecem resultados mais confiáveis. “A maior parte das substâncias químicas não são testadas corretamente: não somos ratos de 70 quilos!”, reclama Claude Reiss.

Para o Movimento pelo Direito e pelo Respeito das Gerações Futuras (MDRGF), que cofinanciou o estudo, esses testes são ainda mais necessários pelo fato de que um terço das frutas e legumes fiscalizados pela Direção Geral da Concorrência, do Consumo e da Repressão de Fraudes contém resíduos de vários pesticidas.

“Em 2008, detectamos em um mesmo cacho de uvas os três produtos testados pelo professor Coleman”, lembra François Veillerette, porta-voz do MDRGF. Na época, análises encomendadas pela associação haviam revelado que quase todas as uvas vendidas no grande varejo continham múltiplos pesticidas, totalizando oito substâncias diferentes por cacho, em média.

A associação pede para que a Comissão Europeia “lance sem demora uma estratégia de avaliação global das misturas de produtos químicos” e que “abaixe significativamente os limites máximos de resíduos tolerados nos alimentos, em um cuidado elementar de precaução”.

Tradutor: Lana Lim

A Preliminary Investigation into the Impact of a Pesticide Combination on Human Neuronal and Glial Cell Lines In Vitro
PLoS ONE: Research Article, published 03 Aug 2012 10.1371/journal.pone.0042768

EcoDebate, 10/08/2012


E a realidade brasileira?




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Ligação entre o Mal de Parkinson e pesticidas é oficialmente reconhecida na França

sábado, 11 de agosto de 2012

Cientistas e movimentos lançam carta proposta por outro modelo agrícola



Os mais de 300 participantes do Seminário de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotóxicos na Saúde do Trabalhador e do Ambiente, realizado nos dias 31/7 e 1/8 na Embrapa Clima Temperado, em Pelotas (RS), produziram uma carta aberta ao final do evento, em que fazem um balanço da atividade – problemas à saúde e ao meio ambiente causados pelo uso dos agrotóxicos na agricultura – e apontam, entre outras providências, a necessidade de investimento público em pesquisas destinadas à produção de alimentos de base agroecológica, a partir da conclusão de que não existem níveis seguros para a utilização de venenos agrícolas nas lavouras.

O Seminário de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotóxicos na Saúde do Trabalhador e do Ambiente reuniu profissionais de ciências agrárias e da saúde, técnicos de extensão e assistência técnica, militantes dos movimentos sociais, estudantes de graduação e de escolas técnicas, professores universitários, trabalhadores da Embrapa e de outras instituições de pesquisa extensão e ensino. Além dos aspectos combativos aos agrotóxicos, foram discutidos e propostos outros modelos de desenvolvimento agropecuário, com ética e respeito a todas as formas de vida, possibilitando, sobretudo, a troca de experiências entre a esfera acadêmica e o saber popular. Além disso, o evento contribuiu para a formação crítica e técnica dos participantes com relação à temática, “Agrotóxico Mata”, proporcionando ainda a integração e articulação entre os participantes.

“A atividade é um marco histórico e um exemplo de trabalho conjunto entre SINPAF, Embrapa Clima Temperados e movimentos sociais para debater novos rumos para a pesquisa e extensão voltadas à produção de alimentos saudáveis, com respeito ao ambiente de trabalho e à vida, inaugurando novos espaços livres e democráticos de participação social e de apresentação de demandas desafiadoras para formulação não apenas de pesquisas como de políticas públicas integradas e capazes de promover a vida em vez de atender apenas os interesses econômicos de poucos”, avalia Vinícius Freitas, presidente da seção sindical Hortaliças e integrante da coordenação da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.

O Seminário coaduna com o Plano de Lutas do SINPAF, que propõe discutir o modelo de desenvolvimento e a saúde dos trabalhadores da pesquisa agropecuária junto à sociedade.

Leia abaixo a Carta de Pelotas:

Seminário Regional Sul de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotóxicos à Saúde e ao Meio Ambiente

31 de julho a 1º de agosto de 2012

CARTA DE PELOTAS/RS

Integrantes dos movimentos sociais do campo, empresas públicas de pesquisa, assistência e extensão rural, estudantes e o movimento sindical dos trabalhadores da pesquisa e desenvolvimento agropecuário presentes ao 1º Seminário Regional Sul de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotóxicos à Saúde e ao Meio Ambiente, realizado no período de 31 de julho a 1º de agosto de 2012, trocaram experiências e saberes sobre os impactos do uso dos agrotóxicos na saúde dos agricultores, consumidores e trabalhadores da pesquisa e desenvolvimento agropecuário no Brasil.

Sob o ponto de vista dos participantes, as reflexões feitas apontam para a ampliação e o fortalecimento da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida nos vários espaços da sociedade.

O debate sobre o uso desses venenos traz à tona a discussão sobre o modelo de desenvolvimento no campo e na cidade que explora e adoece as pessoas, que degrada o meio ambiente, os recursos naturais e as relações sociais.

As reflexões feitas concluíram, centralmente, que não há uso seguro e manejo adequado de agrotóxicos; que é preciso haver mais pesquisas e estudos sobre as doenças por eles causadas; que deve haver mais investimento em políticas públicas que respeitem a vida humana e o ambiente; que a Embrapa deve desenvolver mais pesquisas e ter mais recursos destinados à produção de alimentos de base agroecológica e, por fim, que é preciso articular espaços de reflexão para construção de conceitos e valores que primem pelo bem viver.

Os relatos feitos pelo(a)s agricultore(a)s que produzem alimentos saudáveis em bases agroecológicas mostraram que é possível gerar renda respeitando a natureza e a si mesmos enquanto seres humanos. No decorrer das discussões, verificou-se a necessidade de ampliar a educação contextualizada nas universidades, nos centros de pesquisa e extensão rural, tanto em relação ao uso de venenos quanto sobre a necessidade de libertação reflexiva dos modelos monopolizadores, assim como o uso de alternativas e a perspectiva de pesquisas que ampliem a produção agroecológica – respeitando a ética da vida e não a conformação de novos pacotes que privilegiem apenas o mercado, que deterioram a saúde do trabalhador e da natureza.

Assinalou-se, ainda, a necessidade e a possibilidade técnica e legal de estabelecimento de parcerias junto às secretarias ambientais dos estados para o mapeamento das áreas com produção agroecológica, a fim de protegê-las contra a pulverização aérea. Também foi reforçada a necessidade de ampliação da luta pelo banimento dos agrotóxicos já banidos em outras regiões do mundo e da utilização do dia 3 de dezembro como marco da Campanha, com a realização de atividades em todo o Brasil.

Sugerimos, finalmente, que nos espaços onde seja discutida a temática dos agrotóxicos priorize-se a alimentação ecológica produzida pelos agricultores da região que sedia o evento, e que a espiritualidade componha a programação dos eventos relacionados à Campanha – de forma a valorizar a poesia, a música, as artes, os valores culturais e éticos do(a)s trabalhadore(a)s e agricultore(a)s.

Pelotas, RS, 1º de agosto de 2012.



Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário – SINPAF

Embrapa Clima Temperado

SINPAF/Seção Sindical Pelotas

SINPAF/Seção Sindical Bagé

SINPAF/Seção Sindical Passo Fundo

SINPAF/Seção Sindical Londrina

SINPAF/Seção Sindical Florestas

SINPAF/Seção Sindical Solos

SINPAF/Seção Sindical Hortaliças

SINPAF/Seção Sindical Pará

SINPAF/Seção Sindical Cruz das Almas

Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor – CAPA

Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER

Fórum da Agricultura Familiar do Território Zona Sul

Setorial de Mulheres do Território Zona Sul

Associação dos Produtores Agroecológicos da Região Sul – ARPASUL

Cooperativa Sul Ecológica de Agricultores Familiares Ltda – SULECOLÓGICA

Cooperativa dos Apicultores e Fruticultores da Zona Sul – CAFSUL

Universidade Federal de Pelotas – UFPEL

Secretaria Estadual do Meio Ambiente – SEMA/RS

Comitê Nacional da Campanha Contra os Agrotóxicos e pela Vida

Comitê Estadual da Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela Vida – RS

Rede de Acción ao uso de Plaguicidas y sus Alternativas na América Latina

Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA

sábado, 4 de agosto de 2012

Uso de defensivos é intensificado no Brasil



Por Gerson Freitas Jr. | De São Paulo *

Os produtores rurais brasileiros estão usando mais defensivos em suas lavouras. Apesar do expressivo crescimento da área cultivada com sementes transgênicas, tecnologia que promete reduzir o uso de químicos na produção agrícola, as vendas desses produtos aumentaram mais de 72% entre 2006 e 2012 – de 480,1 mil para 826,7 mil toneladas -, segundo dados do Sindag, sindicato que representa fabricantes de defensivos no país.

No mesmo período, a área cultivada com grãos, fibras, café e cana-de-açúcar cresceu menos de 19%, de 68,8 milhões para 81,7 milhões de hectares, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Isso significa que o consumo médio de agrotóxicos, que era pouco superior a 7 quilos por hectare, em 2005, passou a 10,1 quilos em 2011 – um aumento de 43,2%.

Entre as principais classes de produtos, as vendas de fungicidas foram as que mais cresceram. Entre 2006 e 2011, o uso anual do produto destinado a combater doenças como a ferrugem da soja mais que triplicou, de 56 mil para 174 mil toneladas. As vendas de inseticidas avançaram quase 84%, de 93,1 mil para 170,9 mil toneladas. Já as entregas de herbicidas, químico usado no combate a ervas daninhas, alcançaram 403,6 mil toneladas – um aumento de 44% em relação às 279,2 mil toneladas registradas em 2006.

As vendas de defensivos movimentaram quase US$ 8,5 bilhões no Brasil em 2011 – o dobro do apurado em 2005. Trata-se do segundo maior mercado do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

O expressivo aumento no uso dos defensivos aconteceu no mesmo período em que o cultivo de transgênicos deu seu grande salto no país. Desde 2005, ano em que o Brasil aprovou sua Lei de Biossegurança, a área plantada com sementes geneticamente modificadas mais do que triplicou, de 9,4 milhões para 32 milhões de hectares. Só o cultivo do milho transgênico com a tecnologia BT – que protege as plantações dos ataques de lagartas e dispensa o uso de inseticidas para esse fim- saltou de zero para quase 10 milhões de hectares, de acordo com os últimos dados da consultoria Céleres.

Anderson Galvão, CEO da Céleres, afirma que não há contradição no aumento das vendas tanto de transgênicos quanto de agroquímicos. “Embora a biotecnologia pressuponha um menor uso de defensivos, a base inicial é muito baixa”, justifica. Ele pondera que, até meados da última década – anos de vacas magras na agricultura brasileira -, os produtores aplicavam menos químicos do que o necessário para combater as pragas nas lavouras devido à necessidade de cortar custos. Com o aumento da renda nos últimos anos, no entanto, os produtores puderam investir mais no trato das plantações. “Não fosse a biotecnologia, esse crescimento teria sido ainda maior”, garante. “O fato é que a intensidade tecnológica da produção está crescendo. O que tínhamos antes era um problema de subdosagem”, afirma Ivan Sampaio, gerente de informação do Sindag.

Narciso Barison Neto, presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), afirma que parte do aumento no uso de agrotóxicos deve-se à chegada da ferrugem asiática da soja na década passada. “O controle da doença exigiu um maior número de aplicações. E aí é indiferente se a soja é transgênica ou não, porque ainda não temos um produto que seja imune à ferrugem”, pondera.

De todo modo, os benefícios da biotecnologia em relação ao uso de agrotóxicos nas plantações ainda são marginais. De acordo com a Céleres, o plantio de sementes transgênicas poupou o uso de 4,9 mil toneladas de defensivos na safra 2010/11 – menos de 1,5% do volume total pulverizado. Desde a temporada 1996/97, quando os primeiros transgênicos chegaram ao Brasil, a economia acumulada não passou de 14,5 mil toneladas.

A Céleres projeta, porém, que os ganhos serão mais expressivos na próxima década, com a consolidação da tecnologia e a chegada de novas variedades no país, como a soja resistente a insetos. Ao fim da safra 2020/21, o Brasil terá deixado de consumir pouco mais de 146 mil toneladas de defensivos, estima.

Milho e algodão, que respondem por aproximadamente 22% dos defensivos vendidos no país, são as culturas mais beneficiadas pela adoção da biotecnologia. Segundo a Céleres, na safra 2010/11, lavouras de milho transgênico do Paraná, resistentes a insetos e tolerante a herbicidas, demandaram 24,7% menos defensivos na safra de verão do que um plantio convencional (4,5 quilos ante 6,2 quilos por hectare). Em Mato Grosso, em plantios transgênicos de algodão (também resistentes a insetos e tolerantes a herbicidas), a economia foi de 2,8% (13,6 quilos ante 14 quilos por hectare), em média.



Contudo, as lavouras transgênicas de soja – cultura que demanda, sozinha, 48% de todos os agrotóxicos vendidos no país – são mais intensivas no uso de defensivos do que as que não adotam a tecnologia. No Paraná, por exemplo, as lavouras com a tecnologia Roundup Ready (RR), da Monsanto, consumiram, em média, 3,6 quilos de agroquímicos por hectare, alta de 16,2% em relação aos 3,1 quilos consumidos em lavouras convencionais. A vantagem para o produtor está no manejo: nas lavouras RR, eles substituem vários herbicidas por um único produto, o glifosato, em dosagem maior.

Outros fatores colaboram para anular os potenciais efeitos positivos da biotecnologia sobre o uso de agrotóxicos, como o aumento da resistência de ervas daninhas ao glifosato e o surgimento de pragas secundárias(http://pratoslimpos.org.br/?p=4532). “As doenças fúngicas nunca foram uma preocupação grande nas lavouras de milho porque o foco sempre foi o controle da lagarta. Como esse problema foi resolvido com os transgênicos, agora os produtores terão se preocupar com elas. Logo, é provável que tenhamos um aumento nas vendas de fungicidas para milho nos próximos anos”, projeta Galvão.


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Crescimento do uso de agrotóxicos está ligado às sementes transgênicas, diz pesquisador





quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Crescimento do uso de agrotóxicos está ligado às sementes transgênicas, diz pesquisador



Por José Coutinho Júnior *
A publicidade empregada pelas empresas do agronegócio em relação as suas sementes transgênicas, sempre foram sustentadas numa suposta diminuição do uso dos agrotóxicos sobre as lavouras brasileiras a partir dessa tecnologia.

Entretanto, como era de se esperar – uma vez que as mesmas empresas produtoras das sementes geneticamente modificadas são as mesmas produtoras dos venenos agrícolas -, ao mesmo tempo em que houve um boom da utilização das sementes transgênicas na agricultura brasileira, houve, em contrapartida, um vertiginoso aumento da quantidade de agrotóxicos utilizados para essa produção, sem que a área cultivada crescesse a ponto de justificar esse descompasso.

Em entrevista à Página do MST, o engenheiro agrônomo Rubens Nodari*, comenta os fatores dessa relação e revela a ineficácia dos transgênicos: “O custo da lavoura transgênica na verdade vai ser mais cara do que os agricultores previam a longo prazo, porque eles vão ter quer usar outros herbicidas para depois matar essas plantas resistentes.”

* Rubens Nodari é engenheiro agrônomo, cientista, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSC) e ex-membro da CTN-Bio (Comissão Nacional de Biotecnologia). É considerado um dos maiores especialistas de transgênicos do país.

Confira:

A área cultivada com grãos no Brasil cresceu menos de 19%, de 68,8 milhões para 81,7 milhões de hectares, mas o consumo médio de agrotóxicos, que era pouco superior a 7 quilos por hectare, em 2005, passou a 10,1 quilos em 2011 - um aumento de 43,2%. O que explica esse aumento do uso de venenos?

Bom, são dois cenários possíveis. O primeiro é que algumas plantas são mais resistentes aos agrotóxicos. Isso é um fenômeno mundial, não é só no Brasil; nos Estados Unidos a última safra da soja teve uma epidemia de plantas resistentes a herbicidas, principalmente ao glifosato.

No Brasil nós já temos documentado várias plantas que se tornaram resistentes ou estão se tornando resistentes aos agrotóxicos. Então o agricultor, ao invés de usar apenas uma aplicação de agrotóxico, como é o caso da recomendação da empresa quando ela registra seu produto, os agricultores aumentam a dose, o número de aplicações, ou ambas.

Com a introdução da soja transgênica, o número de variedades diminuiu e sempre que tem menor diversidade genética em cultivo, se uma doença ataca uma daquelas variedades, vai atacar numa maior área. Então também são utilizados outros agrotóxicos, como é o caso dos fungicidas, especialmente no caso mais recente da ferrugem asiática.

A lavoura de soja, sozinha, é responsável por 48% de todos os agrotóxicos vendidos no Brasil. Por quê?

Porque a soja é a cultura que utiliza a maior área de cultivo no país hoje. Além disso, a maior parte da soja é cultivada em médias ou grandes propriedades nas quais se usa o pacote químico completo: sementes transgênicas, inseticidas, herbicidas e fungicidas, pois a soja é uma leguminosa muito vulnerável a doenças e pragas.

O que faz com que as plantas se tornem resistentes ao uso de agrotóxicos?

Ocorre que existe variabilidade genética nas plantas chamadas impropriamente de “daninhas” à lavoura, que vivem na área de cultivo e teriam de morrer com a aplicação dos venenos.

Algumas plantas, por serem mais resistentes, não morrem e vão deixando sementes. Depois de um tempo existe uma grande quantidade de plantas resistentes aos venenos. Essa resistência chega num ponto em que as plantas continuam vivas, mesmo que se aplique o mesmo veneno mais vezes ou aumente a quantidade de princípio ativo na área.

O que faz a soja a transgênica mais cara?

Bom, em primeiro lugar você tem o custo da semente. A transgênica é muito mais cara do que a convencional, porque há uma patente associada à venda dessa soja transgênica. Essa patente da o direito à empresa que tem a semente de cobrar royalties, o que eleva o preço da semente transgênica.

Em segundo lugar, se existe uma área em que ocorre manejo e rotação de cultivo, é preciso de pouco herbicida para controlar as plantas “daninhas” que aparecem na área.

Enquanto quem usa o transgênico acaba utilizando mais herbicida, muitas vezes aplicando preventivamente ou até várias vezes o veneno. Há também relatos na literatura científica de que plantas transgênicas são mais suscetíveis a ataques, então a intensidade do ataque e do fator doença é maior na soja transgênica, o que leva à aplicação de outros agrotóxicos, como os fungicidas.

Países europeus e asiáticos compram do Brasil, em média, 5 milhões de toneladas do grão e 6,5 milhões de toneladas de farelo de soja convencional. Se há mercado para a soja convencional, por que a soja transgênica é predominante?

Foram feitos alguns estudos de pesquisa entre agricultores e ela predomina pela facilidade do manejo, ou seja, para uma grande propriedade, os fazendeiros acham que é melhor ter menos funcionários, pois isso diminuiria o custo de produção.

Nesse sentido a soja transgênica facilita, pois com poucas pessoas é possível plantar, e muitas vezes o mesmo funcionário que maneja a semeadeira, depois maneja o pulverizador, que aplica o glifosato.

É isso que atrai na soja transgênica: mesmo pagando um pouco mais, os agricultores acreditam que facilita o manejo, então eles pagam o preço por essa maior facilidade.

Mas essa facilidade é de curto prazo, porque no longo prazo esse modo de cultivo vai criando plantas resistentes, que vão demandar o uso de outros herbicidas. O custo da lavoura transgênica na verdade vai ser mais cara do que os agricultores previam a longo prazo, porque eles vão ter quer usar outros herbicidas pra depois matar essas plantas resistentes.

Os critérios que consideram uma lavoura de soja natural são muito rígidos. É fácil uma safra convencional de soja ser contaminada por uma transgênica?

Isso vai depender do manejo e do isolamento das lavouras dos agricultores. Por exemplo, o pólen da soja transgênica não vai longe, ele vai até uns 10 metros, entretanto uma semente de soja transgênica ou um grão podem ir a centenas de metros ou kilômetros, porque ele pode ser levado por animais a longas distâncias.

Se um agricultor usa só semente orgânica, por garantia, ele teria que ter uma distância bem maior, eu recomendaria pelo menos mais de 100m de isolamento para evitar a contaminação.

E também esse agricultor não deve usar equipamentos de outros agricultores, ele tem que ter seu próprio equipamento, porque se alguém usa uma máquina de colher soja transgênica antes de colher uma lavoura de soja orgânica, aí vai dar mistura de sementes. O mesmo vale para caminhões que transportam, os silos, ou seja, tudo que facilita a mistura da semente pode causar contaminação.

Existe alguma área na qual haja essa distância de 100 metros?

Não, isso é recomendação minha. Normalmente é recomendado 10, 20 metros. Eu acho muito pouco, porque sempre tem uma ave, um animal que carrega semente pra cá e pra lá... a não ser que o vizinho também plante orgânica, aí tudo bem.


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