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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Além de desertificação, São Paulo tem água de subsolo contaminada

por Júlio Ottoboni*


São Paulo e parte dos Estados do Sul e Sudeste do país podem entrar tanto num ciclo de desertificação como de extermínio de suas reservas hídricas existentes no subsolo. A influência das queimadas e do desmatamento amazônico no ciclo das chuvas nas porções mais ao sul do país alarma tanto os cientistas tanto quanto aos níveis de contaminação das águas potáveis existentes. 

 Com o volume de águas de superfície em diminuição considerável, as reservas subterrâneas estão em boa parte comprometidas. Seja por contaminação por esgoto, pesticidas ou mesmo pela falta de potabilidade. Há estudos sobre o uso a exaustão desses recursos em regiões onde o aquífero tem uma distribuição demasiadamente irregular.

 Desde 1998, pesquisadores da USP e outras entidades alertam para a exploração demasiada e sem critérios das águas subterrâneas, principalmente na agricultura. No trecho paulista, o Aquífero Guarani é explorado por mais de 1000 poços e isso ocorre numa faixa no sentido sudoeste-nordeste. Já a área de recarga ocupa cerca de 17.000 Km², onde se encontram a maior parte dos poços e grande parte dos problemas de contaminação.

 Há 13 anos um grupo de cientistas do Centro de Pesquisas de Água Subterrânea (Cepas) do Instituto de Geociências da USP pesquisa quanto a presença de Nitrato nas águas subterrâneas. Os estudos mostram uma crescente contaminação por esgoto urbano em diversas cidades paulistas. Esse elemento químico surge em processos de decomposição bacteriológica de matéria orgânica presente nos dejetos. 

 “Em locais onde não há saneamento, a contaminação ocorre pelas fossas sépticas e negras, já nas áreas com redes de esgoto o problema são os vazamentos. As redes são antigas e não passam por manutenção periódica. 
A presença do nitrato em áreas urbanas com rede de esgoto não era esperada de forma tão intensa”, afirma o professor da USP Ricardo Hirata.

 O nitrato é cancerígeno e pode desenvolver diversas doenças, principalmente síndromes em crianças. São Paulo tem uma grande dependência da água subterrânea.

 Segundo a pesquisa da USP, cerca de 75% das cidades paulistas têm o abastecimento público total ou parcial feito por águas de aquíferos. 

 “No Estado de São Paulo, quase 60% dos poços tubulares são ilegais, ou seja, não têm controle por parte do estado, com possibilidades de terem problemas de qualidade de suas águas.

 Isso significa que a população pode estar ingerindo água degradada por nitrato ou outros contaminantes e não saber”, alerta o professor da USP.

 Além do problema da recarga, dificultado pela falta de chuvas, descontaminar a água com nitrato é algo caro e algumas situações inviável. Para agravar o quadro, há uma redução drástica da água de subsolo em diversas regiões. 

A supressão das matas ciliares que recobrem as bacias tem forte impacto sobre a qualidade da água, encarecendo em cerca de 100 vezes o seu tratamento. O alerta para as péssimas condições das águas, tanto de superfície como de subsolo, foi feito também pelo pesquisador José Galizia Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia (IIE).
 Segundo ele, em áreas com floresta contígua a cursos d’água que estão protegida, com algumas gotas de cloro por litro se tem água para consumo humano. “ Já em locais com vegetação degradada é preciso usar coagulantes, corretores de pH, flúor, oxidantes, desinfetantes, algicidas e substâncias para remover o gosto e o odor. 

Todo o serviço de filtragem prestado pela floresta precisa ser substituído por um sistema artificial e o custo passa de R$ 2 a R$ 3 a cada mil metros cúbicos para R$ 200 a R$ 300.

 Essa conta precisa ser relacionada com os custos do desmatamento”, afirmou. Quando a cobertura vegetal na bacia hidrográfica é adequada existe uma quantidade maior de água, por processos naturais, essa retorna para a atmosfera e favorece a precipitação. 

O escoamento da água das chuvas é mais lento, favorecendo a recarga e minimiza a erosão.

 A vegetação funciona como um filtro natural e ajuda a infiltrar a água no solo. “Em solos desnudos, o processo de drenagem da água da chuva ocorre de forma muito mais rápida e há uma perda considerável da superfície do solo, que tem como destino os corpos d’água. 


Essa matéria orgânica em suspensão altera completamente as características químicas da água, tanto a de superfície como a subterrânea”, explicou Tundisi. * Júlio Ottoboni é jornalista diplomado e pós-graduado em jornalismo científico.

Fonte: Envolverde

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Entenda o perigo dos inseticidas para a saúde das crianças

Lydia Cintra




Mosquitos e baratas incomodam muita gente. Por isso, produtos “milagrosos” e potentes, que prometem acabar com os bichinhos em uma aplicação, são naturalmente relacionados à proteção.

 As propagandas ajudam: os insetos vão embora e a família fica bem protegida…

O que a indústria não fala, no entanto, é que a exposição a componentes que fazem parte da fórmula destes venenos têm sido apontados por diversos estudos como a causa de problemas de saúde em crianças e adultos, dentre eles câncer.

De acordo com o livro “Agrotóxicos no Brasil – um guia para ação em defesa da vida”, de Flavia Londres, os inseticidas domésticos são fabricados com os mesmos princípios ativos dos agrotóxicos. No entanto, eles não dependem da aprovação dos órgãos de agricultura e meio ambiente. O registro fica por conta apenas da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) – motivo pelo qual escapam de ser classificados e fiscalizados como agrotóxicos.

Para Silvia Regina Brandalise, oncohematologista pediátrica, a exposição da população a esse tipo de produto é alarmante. “Não temos noção do tamanho do nosso inimigo”, ponderou a médica sobre os produtos com derivados de benzeno, como os inseticidas.

A médica foi uma das palestrantes do seminário “Os Agrotóxicos, seus Impactos na Saúde e as Alternativas Agroecológicas no Município de São Paulo”, que aconteceu na capital paulista no dia 15 de abril.


Problemas

Existe, segundo Brandalise, uma estreita relação entre diversos tipos de leucemia infantil, que aparecem principalmente nos primeiros anos de vida, e o uso de inseticidas. Quando o produto é aplicado, ele vai para o solo. A criança, que vive no chão e coloca a mão e outros objetos na boca, fica super exposta a substâncias tóxicas.

Um das grandes preocupações de quem estuda o assunto, no entanto, é o contato da criança ainda na barriga da mãe. “Uma quantidade pode ser pequena para um adulto, mas quando chega a um feto ou na criança durante a gestação é uma quantidade enorme, porque ela não consegue metabolizar”.
Pesquisas já detectaram a presença de inseticidas no leite materno e altos níveis de pesticidas (o inseticida é um tipo de pesticida) no mecônio (a primeira evacuação da criança), relacionados com exposição materna a algumas substâncias.

Algumas alterações moleculares decorrentes do contato com esses produtos também são responsáveis pela teratogênese, a má formação. No estado de SP, o óbito no primeiro ano de vida por má formação corresponde a 28% do total. “Nós estamos vivendo em um universo que está conspirando a favor do câncer, conspirando a favor das má-formações”, disse.

Outros fatores que estão ligados ao desenvolvimento de câncer nas crianças são o uso de hormônios na gravidez, contaminação com metais pesados, infecções e alterações genéticas.

Prevenção


Alertar contra o uso de inseticidas passa principalmente pela educação. “Somente por meio de conhecimento e educação as famílias vão tomar maior consciência sobre o risco que elas estão correndo”, defendeu a especialista, que deixou clara a importância de abolir (ou pelo menos diminuir) o uso de pesticidas para finalidades residenciais, escolas e creches.

E concluiu: “As necessidades e aspirações das crianças estão acima de ideologias e culturas, pois são as mesmas em qualquer sociedade. Elas podem ser uma força unificadora que ajuda adversários a respeitar uma ética comum”.

Assista ao vídeo completo da apresentação (11 minutos) abaixo: