Filme de Mari-Monique. Após 34:58 min a legenda esta em português
Our Daily Poison / Notre poison quotidien.
"A problemática dos pesticidas, que tantos males causa à população mundial. Um documentário chocante que revela a falta de segurança no sistema que esta está mais preocupado com a proteção de segredos comerciais do que com a saúde humana.
"Notre poison quotidien" (O veneno nosso de cada dia), de Marie-Monique Robin, tenta também desvendar como são calculados os valores de IDA - Ingestão Diária Aceitável - para diversos produtos como agrotóxicos, resíduos de plásticos e o aspartame.
A Ingestão diária aceitável - IDA - é um valor numérico, medido em mg/kg, que determina a quantidade que se pode consumir de uma substância durante todos os dias, com segurança, por toda a vida. Na prática, para os agrotóxicos, por exemplo, determina qual limite máximo de resíduo é aceitável em um alimento. Era de se esperar que este índice fosse calculado com um alto grau de rigor científico, para que em nenhum momento colocasse a vida dos consumidores em risco.
Mas Marie-Monique nos mostra justamente o contrário.
No mesmo estilo investigador de "O Mundo Segundo a Monsanto", a diretora percorre centros de pesquisa e agências reguladoras em vários países tentando descobrir como este índice é definido.
E ela não deixa dúvidas: através de estudos científicos pagos pelas empresas, e com a ajuda de diretores de agências reguladoras com ligações com a indústria, os próprios fabricantes das substâncias é que definem o nível aceitável."
Por Victor Mendes
Ainda sobre a ingestão diária aceitável que é um dos temas centrais do filme de Marie Monique, vejamos a seguir o questionamento feito pela Associação Brasileira de Saúde coletiva – ABRASCO.
A avaliação dos impactos dos agrotóxicos na saúde decorrente do consumo de alimentos produzidos com a utilização de agrotóxicos é realizada fundamentalmente com base em estudos experimentais animais, nos quais o principal indicador é a ingestão diária aceitável - IDA. Parte-se da crença de que o organismo humano pode ingerir inalar ou absorver certa quantidade diária, sem que isso tenha consequência para sua saúde. O IDA deriva de outro conceito a dose letal de 50% de morte de cobaias expostas (DL50). Trata-se de um indicador de toxicidade que significa que a metade da população de cobaias no estudo morre ao ser submetido a uma determinada concentração de agrotóxico. Mediante uma abstração matemática, esse número é extrapolado para os humanos. Assim se busca um valor aceitável de exposição humana. Esses indicadores não têm sustentabilidade científica quando queremos tratar de proteção da saúde. Trata-se na realidade de uma forma reducionista do uso da toxicologia para sustentar o uso de veneno, criando álibis cientificistas para dificultar o entendimento da determinação das intoxicações humanas especialmente as crônicas, decorrentes das exposições combinadas, por baixas doses e de longa duração (Carneiro, 2012, pág 47).
O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – CONSEA, também questiona a metodologia adotada para definir os limites de ingestão diária ao não considerar muitos outras fatores importantes para a segurança da saúde das pessoas como coexposições, idade, sexo, nutrição, situações fisiológicas, genética, condições de trabalho, condições de vida e além do que o organismo humano não se comporta de uma forma idêntica como se fosse uma máquina:
Outro aspecto importante, que traz preocupação para o Consea, é o fato de que as metodologias utilizadas pelo governo para definir os limites da Ingestão Diária Aceitável (IDA) de agrotóxicos levam em consideração um “indivíduo médio de 60 kg ”, menosprezando, portanto, o impacto dessas substâncias sobre grupos mais vulneráveis como idosos e crianças, entre outros. Além disso, esse conceito, que deveria ser um parâmetro para garantir a saúde da população exposta a alimentos com agrotóxicos, não considera os efeitos da combinação de vários agrotóxicos ingeridos em uma mesma refeição ou ao longo do mesmo dia (CONSEA, 2012 pág. 24).
Existe hoje a determinação de um limite máximo de resíduo por alimento. Esse limite não deveria existir, é absurdo. Cada pessoa tem uma sensibilidade diferente aos produtos. Sabe como esse limite é determinado? A partir da média da sensibilidade das pessoas, são medidas arbitrárias. No Brasil, por exemplo, um quilo de soja pode ter 10 miligramas de glifosato [princípio ativo de um agrotóxico famoso]. Nos EUA o limite é de 5 mg, na Argentina 5 mg, mas na Europa é 0,2 mg (REVISTA GALILEU, 2010).
No Seminário de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotóxicos na Saúde Humana e no Ambiente, Karen Friedrich, pesquisadora do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde também questionou o limite de ingestão diária permitida de agrotóxicos:
(...) a ingestão diária aceitável de agrotóxicos nos alimentos segue um modelo linear de dose e efeito, mas esse paradigma é rompido pelos carcinógenos genotóxicos presentes no defensivo agrícola, para os quais não existe limite seguro. Segundo Karen, estudos recentes têm comprovado que a exposição humana a baixas doses de agrotóxicos causa desregulação endócrina e imunotoxidade. A desregulação endócrina gera efeitos como alterações nas funções hormonais, responsáveis pelos processos neurocomportamentais, reprodutivos, nas funções cardiovasculares, renais, intestinais, neurológicas e imunológicas. No caso da imunotoxidade, disse ela, podem ocorrer reações alérgicas e de hipersensibilidade ou imunossupressão, tornando as pessoas mais suscetíveis ao aparecimento de tumores ou à infecção por patógenos. Os períodos mais críticos são o pré-natal e pós-natal, quando se desenvolvem o sistema nervoso, endócrino e imunológico (Informe ENSP, 2012).
Esta pequena revisão sobre a Ingestão diária aceitável faz parte do trabalho de conclusão de uma pós que estou fazendo e o TCC é sobre AGROTÓXICO NO BRASIL – USO E IMPACTOS AO MEIO AMBIENTE E A SAÚDE PÚBLICA
Fonte:
Carneiro FF, Pignati W, Rigotto RM, Augusto LGS, Rizollo A, Muller NM, Alexandre VP, Friedrich K, Mello MSC. Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO; 2012. 1ª Parte. 98 p
Revista GALILEU, 2010. Entenda porque o Brasil é o maior consumidor de agrotóxico do mundo. Disponível em: :< http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI150920-17770,00-ENTENDA+POR+QUE+O+BRASIL+E+O+MAIOR+CONSUMIDOR+DE+AGROTOXICOS+DO+MUNDO.html>. Acesso em: 01 de outubro de 2012.
Informe ENSP, 2012. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Seminário discute os agrotóxicos e os impactos na saúde pública. Disponível em:< http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/30423>. Acesso em: 29 setembro de 2012.
Para saber mais:
O VENENO ESTA NA MESA de Silvio Tendler.
O MUNDO SEGUNDO A MONSANTO de Marie - Monique
Veja um resumo do filme acessando:
Para aprofundar:
‘Coquetel’ de agrotóxicos ingerido no consumo de frutas e verduras pode causar Alzheimer e Parkinson
Exposição a agrotóxicos pode causar alterações no DNA, mostra pesquisa
Estudo mostra que uso de agrotóxicos pode mudar o comportamento de gerações futuras
ATUALIZAÇÃO EM 21 OUTUBRO 2012
Veja Também:
Uma reportagem de Rui Araújo para o Repórter TVI.
Uma investigação sobre os alimentos perigosos que são vendidos nos grandes supermercados em Portugal.
Estudo mostra que uso de agrotóxicos pode mudar o comportamento de gerações futuras
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