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domingo, 11 de dezembro de 2016

AM consome 50% mais agrotóxicos que média nacional, aponta pesquisa

Dados foram obtidos pelo Programa de Avaliação de Resíduos Agrotóxicos.
Fórum instalado pelo MP vai cobrar fiscalização e mais informação.

Segundo pesquisa, pimentão apresenta maior índice de agrotóxico (Foto: Reprodução / TV TEM)

Os produtos consumidos no Brasil apresentam grandes índices de agrotóxicos, inclusive alguns já proibidos em países como China e Estados Unidos, conforme dados da Agência Nacional da Saúde (Anvisa). No Amazonas, os dados são mais alarmantes. Uma pesquisa feita pelo Programa de Avaliação de Resíduos Agrotóxicos (Para) mostrou que o estado consome 50℅ mais agrotóxicos que a média nacional. O dado foi apresentado na instalação do Fórum de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, na sexta-feira (19).

O engenheiro agrônomo e coordenador da Rede Maniva de Agroecologia no Amazonas, Márcio Menezes, destacou a falta do incentivo à produção agrícola estadual e baixo consumo de hortifrutigranjeiros produzidos no estado como um dos fatores para o alto índice.


"Por falta de informação, o agricultor familiar vai na loja e pede um veneno sem receituário agronômico, e o próprio vendedor diz pra colocar uns 20 mililitros, aí ele acha que é pouco e coloca meio litro. Se houvesse um receituário agronômico, seria como uma receita de remédio, dizendo quanto tem que usar e por quantos dias, mas não há essa fiscalização da venda. Em Manacapuru e Novo Remanso, por exemplo, o veneno chegou de forma catastrófica. Isso tem que ser uma ação do governo, tem que ter vontade política e aí se consegue ampliar a produção" avalia Menezes.

Conforme o coordenador, o índice de consumo de agrotóxico no estado é alarmante e foi diagnosticado após uma coleta de produtos da agropecuária da região.

"Isso é alarmante porque se temos uma agricultura agarrada em conceitos da família, da coisa indígena, é uma oportunidade enorme. A gente tem isso como uma fortaleza. O Amazonas importa cebolinha e os nossos pais plantavam no quintal de casa. 

Se o consumidor começa a exigir mais isso do produtor, mais ele vai ser incentivado a plantar", destaca.


Políticas Públicas


Luiz Cláudio Meireles, engenheiro agrônomo e pesquisador da Fiocruz do Rio de Janeiro, endossa a necessidade de políticas públicas para a expansão da produção agrícola. "Se a gente tiver financiamento para produção agriecológica, extensão rural para os agricultores e várias outras medidas que sigam nesse caminho, com certeza a gente consegue mudar essa realidade", aponta.
O engenheiro critica a falta de monitoramento e de ações para o uso de agrotóxicos no país, que, segundo ele, carece de estrutura tanto estadual, quanto federal.

"O uso de agrotóxico no Brasil alcança cifras muito grandes, a gente tá consumindo um milhão de toneladas por ano e a gente sabe que a estrutura de governo federal e estadual está muito aquém de enfrentar esse volume de venenos do ponto de vista de monitoramento, ações de controle, ações educativas, para partir para um modelo que vai utilizar menos agrotóxico e vai garantir muito mais saúde, principalmente para quem trabalha no campo.

Produto Natural é utilizado para evitar ataque de pragas na plantação (Foto: Ive Rylo/G1 AM)
Meireles contribuiu para um dossiê feito pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) que reúne um conjunto de informações sobre os danos e contaminações causadas pelos agrotóxicos. O documento mostra os agravos gerados e alternativas para a utilização massiva de agrotóxicos para garantir saúde aos produtores e consumidores. O dossiê cita doenças agudas em pessoas que lidam diretamente com a alocação do veneno das plantas, e crônicas, principalmente, de ordem neurológica.

"É importante dizer que o Instituto do Câncer se posicionou recentemente para estabelecer uma ligação entre o agrotóxico e o câncer. A dificuldade que nós temos é determinar a ligação entre uma substância e um determinado tipo de câncer, por exemplo. Mas, sabemos que quando comemos estamos ingerindo um conjunto de agrotóxicos que vai repercutir na saúde durante anos", enfatiza o pesquisador.


Local produz 10 tipos diferentes de hortaliças (Foto: Ive Rylo/G1 AM)


Alimentos Orgânicos


A Rede Maniva é uma rede de cooperativa que surgiu da união de agricultores da região e atua na promoção do consumo orgânico na região. Ela aguarda o credenciamento do Ministério Público para ser certificadora e poder dar o selo de produtor orgânico aos produtores de alimentos livres de agrotóxico. Atualmente, 20 agricultores integram a rede, conforme o coordenador, Márcio Menezes.
A Feira Orgânica de Manaus, é reconhecida e certificada pelo Ministério da Agricultura e funciona todos os sábados na Rua Maceió, 460, bairro Adrianópolis.


Hortaliças sem Agrotóxicos

Produzir sem agrotóxicos não é novidade na "Horta do Ceará", que há 24 anos produz hortaliças em um terreno na Colônia Japonesa, no bairro Novo Aleixo, Zona Centro-Sul.

"Trabalhamos com produtos 100% naturais. Utilizamos em vez de agrotóxico, produto natural à base de espinha de peixe, pimenta ardida e andiroba que evita mosquitos, lagartos e o ataque de outras pragas na plantação", explicou a produtora e comerciante, Yuri Alves.

Nos 13 hectares são cultivados seis tipos de alface, rúcula, salsinha, cebolinha, coentro, chicória, acelga, agrião, couve, manjericão e hortelã. A produtora explicou que o interesse da família de produtores em evitar agrotóxicos foi "herança” deixada pelo pai. "Meu pai, o 'Ceará', sempre preferiu utilizar produtos naturais na horta. Ele nunca gostou de agrotóxicos e percebemos que, sem agrotóxicos, a qualidade das hortaliças é outra”, disse.

Ela nota diferença de durabilidade e do sabor das hortaliças cultivadas com e sem agrotóxicos. "A diferença maior é que as hortaliças tem uma resistência maior, elas chegam a durar de 15 a 20 dias na geladeira, tempo maior que com o agrotóxico e o sabor é diferente. A alface, por exemplo, não amarga", afirmou Yuri.

O interesse em consumir vegetais cultivados sem agrotóxicos é crescente, segundo os produtores. A estudante de nutrição, Francinne Alves, 49, explicou que há tempos busca produtores que forneçam frutas e verduras cultivadas sem agrotóxicos. "A gente procura comprar esse tipo de alimento, pensando na saúde que é o foco principal. Viemos aqui porque a gente supõe que sejam alimentos saudáveis", disse.

O pesquisador norte-americano Richard Vogt aprovou a qualidade das hortaliças sem agrotóxicos. "É melhor para saúde, esta é a melhor alface que existe em Manaus. Não têm agrotóxicos, não têm herbicidas nem pesticidas. A couve não tem buraco, é crocante e limpa, a qualidade é boa", aprovou.
Produtores apontam aumento da procura por alimentos cultivados sem agrotóxicos (Foto: Ive Rylo/G1 AM)


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