FOLHA DE S. PAULO - SP | OPINIÃO
EMBRAPA
11/04/2012
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Embrapa
(Artigo)
Há
tarefas que as virtudes do mercado não podem realizar adequadamente. Não se
pode e não se deve esperar que uma empresa privada, que só pode sobreviver se
gerar lucro, distribuir dividendos e criar valor para seus acionistas, atenda corretamente
ao interesse social se tiver objetivos conflitantes entre o curto e o longo
prazo.
É
o que pode acontecer, por exemplo, quando a pesquisa e a inovação ocorrem em
empresas que são, ao mesmo tempo, produtoras e disseminadoras de bens que incorporem
seus resultados.
Suponhamos,
para simplificar o argumento, uma empresa que produza um eficiente fungicida
para combater doença que ataca a produção de feijão. Um dia, seus cientistas
constroem com sucesso uma variedade de feijão resistente ao fungicida que ela mesma
produz. Qual será a provável reação da sua administração, cujo primeiro dever é
proteger o valor do patrimônio de seus acionistas? Patentear a inovação e
colocá-la na prateleira! Até quando? Até que o valor dos seus investimentos na produção
do fungicida seja completamente amortizado.
O
"mercado" apresenta uma "falha". Não funciona adequadamente
pela simples e boa razão que o "incentivo" que lhe determina a
ação -a maximização dos lucros-
subordina o interesse coletivo ao "curto-prazismo" do interesse
privado. Em outras palavras, o feijão resistente aos fungicidas que
beneficiaria toda a sociedade terá a sua disseminação controlada pela velocidade
da depreciação do investimento já feito para produzir o fungicida, condicionada
ainda à possibilidade de garantir a remuneração
dos dispêndios feitos com a pesquisa -ou seja, à patente e ao controle do valor
criado pela descoberta.
Se
não houver a "garantia" da patente, o mais provável é que, devido ao
interesse privado, a inovação de interesse social nunca veja a luz.
Foram
constatações tão simples como essas que levaram o governo, em 1972, a criar a EMBRAPA,
que transformou o maior "passivo" brasileiro, o cerrado, no nosso
maior "ativo". Um ativo construído com dedicação, diligência e trabalho
duro, que precisa continuar a ser defendido do "aparelhamento"
ideológico-partidário.
Ao
contrário do que pensam alguns de nossos economistas, a EMBRAPA não nasceu para competir com o setor
privado.
Nasceu
para inovar, criar e transmitir conhecimentos, usando as empresas privadas como
instrumento para disseminá-los. Ela não produz "distorções" no
mercado.
Muito
pelo contrário, corrige a sua miopia "prazo-curtista". É isso que
torna incompreensível o misterioso e confuso "ruído" político atual
sobre o seu importante papel para o desenvolvimento nacional.
ANTONIO
DELFIM NETTO.
contatodelfimnetto@terra.com.br
contatodelfimnetto@terra.com.br
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