Roberto Cabrini comandou uma investigação exclusiva e revelou as graves consequências do uso indiscriminado de agrotóxicos.
No sertão nordestino, encontrou trabalhadores desprotegidos que se contaminam todos os dias.
Uma região onde a incidência de câncer chega a 30% maior do que o norma.
Colaboração - Edilson Gonçalves
Nota do Blog.
Trabalhadores desprotegidos que se contaminam todos os dias, não é exclusivo do sertão nordestino, isso acontece nas regiões mais desenvolvidas do país - principalmente na agricultura familiar, e existe uma omissão muito grande da assistência técnica privada e oficial.
Segundo o dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO parte 2 (Augusto, 2012) os sistemas de informações no país ainda não retratam a real situação das intoxicações agudas e crônicas em virtude da acentuada subnotificação. Nenhum deles tem respondido adequadamente como instrumento de vigilância deste tipo de agravo havendo para os casos agudos um sub-registro muito grande e os casos crônicos não são captados por nenhum dos sistema de informação.
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) registrou 2.071 casos de intoxicação por agrotóxicos de uso agrícola, em 2007 e 3.466 casos em 2001, um aumento de de 67.3%. O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), por sua vez, registrou em 2009 - 5253 casos de intoxicação por agrotóxicos de uso agrícola com um total de 188 óbitos .
O Ministério da Saúde estima que, anualmente, existam mais de 400 mil pessoas contaminadas por agrotóxicos, com cerca de 4 mil mortes por ano no Brasil.
Estima-se que para cada caso registrado de intoxicação por agrotóxico ocorrem outros 50 sem notificação, ou com notificação errônea.
Os EPIs por mais eficientes que sejam, podem reduz a exposição do trabalhador ao produto químico, mas não elimina totalmente a exposição ao agente químico e pesquisadores já alertam “na maioria das vezes, parece que os EPIs agrícolas não conseguem evitar a contaminação, o acidente ou a lesão” (VEIGA et al., 2007. p.9).
Discutiu-se ainda a possibilidade dos EPIs apresentarem lacunas funcionais no projeto (VEIGA, 2007), no que diz respeito a sua permeabilidade, conforto térmico, máscaras e protetores faciais que embaçam com a respiração e outros acessórios que não foram projetados para uso integrado e que nos casos analisados além de não neutralizar a insalubridade aumentam a probabilidade de contaminação dos trabalhadores em algumas atividades.
Corraborando o foi colocado por (Veiga, 2007) o médico do trabalho e doutor em toxicologia Wanderlei Pignati em entrevista ao Portal Viomundo (AZENHA, 2011) coloca:
O uso seguro do agrotóxico é altamente questionável. Pode ser seguro para o trabalhador, isso se ele usar todos os EPI. Mesmo assim, tem toda uma questão da eficiência e eficácia desses EPI. Sou também médico do trabalho e a gente vê isso. A eficiência e eficácia do EPI é de 90%, se [os trabalhadores] usarem máscara com o filtro químico adequado. E o resto do vestimento? Agrotóxico penetra até pelo olho! Pela mucosa, pela pele. Então teria que ter até um cilindro de oxigênio para respirar igual a um astronauta. O filtro pega 80% ou 90% dos tipos de agrotóxico. Hoje, você tem mais de 600 tipos de princípios ativos e são 1.500 tipos de produtos formulados. Tem agrotóxicos novos com moléculas muito pequenas que passam pelo filtro. Então, com toda a proteção ideal, você protege o trabalhador. Mas, e o ambiente?
Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Ceará divulgada no programa Globo Rural (edição 26 agosto 2012), mostra um estudo que esta procurando detectar precocemente indicio de câncer em trabalhadores rurais através da análise do DNA das células da medula óssea.
De nove amostras analisadas, seis apresentaram alterações que chamaram atenção dos pesquisadores, porque estas alterações acostumam aparecer em caso de leucemia aguda e apesar da alteração ser apenas em uma das 20 células analisadas, o agricultor não esta ainda doente - mas tem o primeiro passo para o desenvolvimento de câncer, mas se o trabalhador continuar por mais alguns anos com a exposição aos agrotóxicos possivelmente vai desenvolver uma doença na medula óssea - alerta o pesquisador.
Outra pesquisa que acompanhou 108 viticultores (RuralBr 2011) de várias localidades de Caxias do Sul –RS, nos anos de 2001 e 2002, realizada pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade de Caxias do Sul (UCS) analisou as células dos viticultores e foram detectadas lesões no DNA de todos os produtores em um nível seis vezes maiores em relação ao um grupo de pessoas não expostas aos agrotóxicos.
Segundo a bióloga e geneticista Juliana da Silva, os danos na célula pode acumular no sistema de uma pessoa e causar doenças como câncer e alzheimer.
Estudo realizado (Bedor, 2008), que objetivou estudar o potencial carcinogênico dos agrotóxicos utilizados na fruticultura do Vale do São Francisco, revelou que para os agrotóxicos mais utilizados, 87% possuem potencial carcinógenos e 7% são potencialmente pré – carcinógenos, indicando uma evidente situação de vulnerabilidade para o câncer.
Estudo realizado na região sul de Minas Gerais (Silvia, 2008) aponta para uma relação entre cânceres hematológicos e a utilização de agrotóxicos. São classificados como cânceres hematológicos os linfomas, as leucemias e o mieloma múltiplo e conclusão que se chegou é que os trabalhadores que declararam ter tido exposição a agrotóxicos apresentaram um risco de quase quatro vezes maior para o desenvolvimento desse tipo de câncer em relação àqueles que não declararam exposição.
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