Historicamente, o papel da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Instituto Nacional de Câncer
José Alencar Gomes da Silva (Inca) e da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) é de
produção de conhecimento científico pautado pela ética e pelo compromisso com a sociedade
e em defesa da saúde, do ambiente e da vida.
Essas instituições tiveram e têm contribuição
fundamental na construção e no fortalecimento do Sistema Único de Saúde.
Quando pesquisas desenvolvidas nas referidas instituições contrariam interesses de negócios
poderosos, incluindo o mercado de agrotóxicos, que movimenta anualmente bilhões de reais,
eventualmente elas sofrem ataques ofensivos que, transcendendo o legítimo debate público e
científico, visam confundir a opinião pública utilizando subterfúgios e difamações para a
defesa e manutenção do uso de substâncias perigosas à saúde e ao meio ambiente.
A Fiocruz, o Inca e a Abrasco não se eximem de seus papéis perante a sociedade e cumprem a
missão de zelar pela prevenção da saúde e proteção da população. Por esta razão têm se
posicionado claramente no que diz respeito aos perigos que os agrotóxicos e outras
substâncias oferecem à saúde e ao meio ambiente. Desde 2008, o Brasil lidera o ranking de
uso de agrotóxicos, o que gera um contexto de alto risco e exige ações prementes de controle
e de transição para modelos de produção agrícola mais justos, saudáveis e sustentáveis.
As pesquisas sociais, clínicas, epidemiológicas e experimentais desenvolvidas a partir de
pressupostos da saúde coletiva, em entendimento à complexa determinação social do
processo saúde-doença, envolvem questões éticas relativas às vulnerabilidades sociais e
ambientais que necessariamente pertencem ao mundo real no qual as populações do campo e
das cidades estão inseridas.
Portanto, repudiam a acusação de que são guiados por um “viés ideológico” e sem qualidade
científica. As referidas instituições defendem os interesses da saúde pública e dos
ecossistemas, em consonância com os direitos humanos universais, e firmados pelos princípios
constitucionais que regem o Brasil.
Para entender veja:
“Pesquisas contra agrotóxicos tem viés ideológico”
Para entender veja:
“Pesquisas contra agrotóxicos tem viés ideológico”
A Fiocruz, o Inca e a Abrasco atuam há décadas em parceria com diversas universidades e
institutos de pesquisas, como a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), em que atua o
professor e pesquisador Wanderlei Pignati – citado em reportagem da revista “Galileu”
mencionada abaixo –, e outros que desenvolvem pesquisas sobre os impactos dos agrotóxicos
e de micronutrientes na saúde e no ambiente que são idôneas, independentes, críticas, com
metodologias consistentes e livres de pressões de mercado. Tais pesquisas vêm revelando a
gravidade, para a saúde de trabalhadores e da população em geral, do uso de agrotóxicos, e
reforçam a necessidade de medidas mais efetivas de controle e prevenção, incluindo o
banimento de substâncias perigosas já proibidas em outros países e o fim da pulverização
aérea.
O “Dossiê Abrasco–Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na Saúde” registra e difunde a
preocupação de pesquisadores, professores e profissionais com a escalada ascendente de uso
de agrotóxicos no Brasil e a contaminação do ambiente e das pessoas dela resultante, com
severos impactos na saúde pública e na segurança alimentar e nutricional da população.
Veja:
DOSSIÊ DA ABRASCO PARTE 1, 2 e 3 - AGROTÓXICOS e SEUS IMPACTOS
Veja:
DOSSIÊ DA ABRASCO PARTE 1, 2 e 3 - AGROTÓXICOS e SEUS IMPACTOS
Os agrotóxicos podem causar danos à saúde extremamente graves, como alterações
hormonais e reprodutivas, danos hepáticos e renais, disfunções imunológicas, distúrbios
cognitivos e neuromotores e cânceres, dentre outros. Muitos desses efeitos podem ocorrer
em níveis de dose muito baixos, como os que têm sido encontrados em alimentos, água e
ambientes contaminados.
Além disso, centenas de estudos demonstram que os agrotóxicos
também podem desequilibrar os ecossistemas, diminuindo a população de espécies como
pássaros, sapos, peixes e abelhas. Muitos desses animais também desempenham papel
importante na produção agrícola, pois atuam como polinizadores, fertilizadores e predadores
naturais de outros animais que atingem as lavouras. O “Dossiê Abrasco” cita dezenas dos
milhares de estudos publicados em periódicos científicos nacionais e internacionais de renome
que comprovam esses achados.
É direito da população brasileira ter acesso às informações dos impactos dos agrotóxicos. Faz se
necessário avançar na construção de políticas públicas que possam proteger e promover a
saúde humana e dos ecossistemas impactados negativamente pelos agrotóxicos, assim como
fortalecer a regulação do uso dessas substâncias no Brasil, por meio do SUS.
Nesse sentido, a Fiocruz, o Inca e a Abrasco repudiam as declarações do diretor-executivo da
Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher, e de Ângelo Trapé, da
Unicamp, veiculadas na revista “Galileu” nº 266, edição de setembro de 2013, e também na
entrevista divulgada no site da publicação, que atentam contra a qualidade científica das
pesquisas desenvolvidas nessas instituições e, em especial, contra o “Dossiê Abrasco – Um
alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na Saúde”.
As palavras do diretor-executivo da Andef, que tentam desqualificar e macular a credibilidade
dessas instituições, são inéditas, dado o prestígio nacional e internacional e a relevância
secular que temos na área da pesquisa e formulação de políticas públicas de ciência,
tecnologia e inovação em saúde, bem como na formação de profissionais altamente
qualificados.
A Andef é uma associação de empresas que produzem e lucram com a comercialização de
agrotóxicos no Brasil. Em 2010, o mercado dessas substâncias movimentou cerca de US$ 7,3
bilhões no país, o que corresponde a 19% do mercado global de agrotóxicos. As seis empresas
que controlam esse segmento no Brasil são transnacionais (Basf, Bayer, Dupont, Monsanto,
Syngenta e Dow) e associadas à Andef. As informações sobre o mercado de agrotóxicos no
Brasil, assim como a relação de lucro combinado das empresas na venda de sementes
transgênicas e venenos agrícolas, estão disponíveis no referido Dossiê Abrasco “Um alerta
sobre os impactos dos agrotóxicos na Saúde”.
A Fiocruz, o Inca e a Abrasco não aceitarão pressões de setores interessados na venda de
agrotóxicos e convocam a sociedade brasileira a tomar conhecimento e se mobilizar frente à
grave situação em que o país se encontra, de vulnerabilidade relacionada ao uso massivo de
agrotóxicos.
Rio de Janeiro, 06 de setembro de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário