Enquanto a companhia
alemã Bayer continuar fabricando e vendendo
agrotóxicos neonicotinóides, populações de abelhas no mundo todo serão mortas.
A
reportagem é publicada pelo sítio Pratos Limpos , 23-12-2012.
É
responsabilidade da Bayer o fenômeno conhecido como transtorno
do colapso de colônias (CCD) –
problema da mortalidade de colônias de abelhas – e está inserido entre os casos
que serão apresentados de 3 a
6 de dezembro, no Tribunal Permanente dos Povos (TPP),
em Bangalore (Índia) durante a sessão que
processará as seis maiores multinacionais agroquímicas por violações dos
direitos humanos.
“A
morte das abelhas é um problema global e é fundamental discutir este tema e
encontrar soluções internacionalmente. É um bom sinal que o TPP,
como uma iniciativa global, aborde este tema, que é um problema ambiental e uma
ameaça econômica”, disse Philipp Mimkes, porta-voz da
Coalizão contra os perigos da Bayer, um grupo com sede na Alemanha.
Mimkes revelou que os imidaclopride (Gaucho)
e clotianidina (Poncho) são os pesticidas mais vendidos da Bayer, apesar destes
produtos, conhecidos como neonicotinóides, estarem ligados à morte de colônias
de abelhas.
Em
2010, as vendas do Gaucho alcançaram a cifra de US$ 820
milhões e do Pancho US$ 260 milhões. Gaucho ocupa o primeiro lugar entre os
agrotóxicos vendidos pela Bayer, enquanto o Pancho está em sétimo lugar. “Esta é a
razão da Bayer, apesar dos graves prejuízos ambientais, lutar com unhas e
dentes contra qualquer proibição na aplicação dos neonicotinóides”, afirma
Mimkes.
Na
Europa, em vários países o uso dos neonicotinóides foram proibidos. Na
Alemanha, Itália, França e Eslovênia o Gaucho foi proibido no tratamento das
sementes de milho, que é sua principal aplicação. No entanto, sua utilização é
livre em vários países, incluindo os EUA, onde desde 2006, um terço da
população de abelha já morreu.
As
abelhas polinizam mais de 70, entre 100, culturas que fornecem 90% de alimentos
do mundo. Entre frutas e vegetais, estão, por exemplo, as maçãs, laranjas,
morangos, cebolas e cenouras. O declínio na população de abelhas tem efeitos
devastadores para a segurança alimentar e é meio de subsistência dos
agricultores. Além disso, pode afetar o valor nutricional e a variedade de
nossos alimentos.
Diminuição das populações de abelhas
Diminuição das populações de abelhas
O
termo CCD é utilizado para descrever a
drástica diminuição das populações de abelha no mundo, que começou na década de
1990 – mesmo período em que os neonicotinóides entraram no mercado. Em 1994, a população de
abelhas começou a morrer na França e mais tarde na Itália, Espanha, Suíça,
Alemanha, Áustria, Polônia, Inglaterra, Eslovênia, Grécia, Bélgica, Canadá,
EUA, Brasil, Japão e Índia.
Os neonicotinóides são uma classe de
pesticidas que estão quimicamente relacionados com a nicotina. Eles são
absorvidos pelo sistema vascular da planta e são liberados através das gotas de
pólen, néctar e água que as abelhas se alimentam.
Embora
o CCD seja
causado, provavelmente, por vários fatores, incluindo estresse em função da
apicultura industrial e a perda de seu habitat natural, muitos cientistas
acreditam que a exposição aos pesticidas é um dos fatores mais críticos. Os
neonicotinóides são de interesse particular por ter efeito cumulativo e
subletais sobre as abelhas e outros insetos polinizadores. Estes efeitos
incluem transtornos do sistema neurológico e imunológico refletidos aos sintomas
observados nas mortes de abelhas.
O CCD tem um sério impacto sobre a
economia dos apicultores de todo o mundo. Nos EUA, o volume dos negócios
ligados a abelhas é de US$ 15 bilhões e as perdas em função do CCD são
estimadas em 29 a
36% por ano.
Em
1991, a Bayer começou a produzir o
imidadoprid, que é o mais utilizado em culturas de hortaliças, girassol e,
especialmente, em milho. Em
1999, no entanto, a França proibiu o imidadoprid, após constatar que um terço
das abelhas morreu após sua utilização. Cinco anos depois, também foi proibido
no tratamento do milho.
A Bayer agora produz a clotiadina, uma
sucessora do imidadoprid. Entrou no mercado americano em 2003 e no alemão em 2006. A clotiadina também é
um neonicotinóides e altamente tóxico às abelhas.
Um
estudo recente das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) descreveu que os pesticidas
da Bayer imidacloprid e clotiadina colocam em risco diversos
animais como gatos, peixes, ratos, coelhos, pássaros e minhocas. “Os estudos de
laboratório demonstraram que estes produtos químicos podem causar a perda de
direção, afetar a memória e o metabolismo cerebral e levar à mortandade”,
revela o informe da Pnuma.
Devido ao seu alto grau de persistência, os
neonicotinóides podem permanecer no solo durante vários anos. Os cultivos onde
foram utilizados agrotóxicos anteriormente podem levar as toxinas para o solo
através de suas raízes.
Em
2008 em Baden-Wuerttemberg, sul da
Alemanha, morreram dois terços da população de abelhas após a clotianidina ser
aplicada no tratamento de sementes de milho. Isto levou a uma perda de 17 mil
euros. Foi comprovado que 99% das abelhas mortas continham clotianidina. As
mariposas e outros insetos também morreram.
Pressão para deter os neonicotinóides
Pressão para deter os neonicotinóides
Segundo Mimkes,
o grupo “está fazendo campanha contra os neonicotinóides desde 1997, quando os
riscos ainda eram praticamente desconhecidos pelo grande público. É preciso
pressionar para que a Bayer pare a fabricação e comercialização desses
pesticidas, que são responsáveis pelos danos causados ao meio ambiente e por
prejuízos econômicos.
A novidade mais importante é que hoje em dia
há milhares de informações, artigos e estudos do mundo todo sobre a correlação
da exposição aos agrotóxicos, tais como os imidacloprid e clotiadina, e o declínio
geral das abelhas. Apicultores e os grupos ecologistas em muitos países estão
ativos e pressionando os governos e as autoridades para protegerem as abelhas”,
disse.
Os
ativistas recolheram 1,2 milhões de assinaturas para exigir que a clotianidina
fosse retirada do mercado e elas foram apresentadas ao diretor geral da Bayer
durante uma reunião de acionistas. O abaixo-assinado foi em função de uma nota
interna dos EUA –agência de proteção
ambiental (EPA) – que confirmou o risco que o agrotóxico
representa para as abelhas e descreve que a Bayer apresentou estudos
insuficientes.
Em
2003 a
EPA solicitou que a Bayer apresentasse um estudo do ciclo
de vida e os efeitos da clotianidina sobre as abelhas. A Bayer pediu mais tempo
para terminar a pesquisa, continuou vendendo o produto e somente em 2007
apresentou o estudo.
Um
memorando vazado diz que a EPA concedeu permissão a Bayer para realizar estudo sobre o
óleo de canola, em vez do milho, uma distinção crucial já que a canola é um
cultivo menor em comparação ao milho. Os testes foram realizados em terrenos
pequenos e próximos uns aos outros.
A
próxima reunião do TPP incluirá em sua acusação os
governos e instituições que, em alguns casos, foram coniventes com as empresas
transnacionais de agrotóxicos, violando o direito à vida, à saúde, entre outros
direitos básicos.
Segundo Mimkes,
“os PPT anteriores ajudaram a pressionar as empresas e esperamos que o próximo
impulsione à campanha para deter a morte massiva de abelhas”.
O TPP tem raízes históricas nos
tribunais sobre a guerra do Vietnã e nas ditaduras da América Latina. Em época
mais recente à globalização corporativa, tem abordado e denunciado as
multinacionais que operam acima das leis nacionais e cometem violações dos
direitos humanos impunemente.
A
próxima reunião do TPP terá como meta denunciar as transnacionais de
agrotóxicos comoMonsanto, Syngenta, Bayer, Dow
Chemical, DuPont, Basf e mais seis empresas ligadas ao
controle de alimentos e do sistema agrícola.
Publicado originalmente em:
http://www.ecodebate.com.br/2012/01/16/agrotoxicos-neonicotinoides-a-bayer-continua-matando-abelhas-em-todo-o-planeta/
Para saber mais:
Documentário: O SILÊNCIO DA ABELHAS.
http://www.ecodebate.com.br/2012/01/16/agrotoxicos-neonicotinoides-a-bayer-continua-matando-abelhas-em-todo-o-planeta/
Para saber mais:
Documentário: O SILÊNCIO DA ABELHAS.
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