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domingo, 17 de junho de 2012

"Cidade dos Meninos" tem mais de 90% de moradores contaminados por pesticida




Marco Antônio Teixeira/UOL(*)


A quase 131 km do principal palco da Conferência Rio+20, o Riocentro, na zona oeste do Rio de Janeiro, cerca de duas mil pessoas lutam desde a ECO92 para inverter a imagem de "terra amaldiçoada" --forma como muitos se referem ao local-- atribuída à Cidade dos Meninos, no distrito de Campos Elíseos, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 97,2% dos moradores estão contaminados por substâncias como HCH e DDT (compostos utilizados na produção de pesticidas).

A aposentada Lourdes da Silva, 79, que vive na região há 58 anos, foi uma das primeiras moradoras a sofrer a contaminação. Ela afirma que foram muitas as promessas do Ministério da Saúde a respeito da necessidade urgente de descontaminação da localidade. Porém, na maioria das vezes, a resposta dada foi a de que seria "mais barato" retirar a população do que implementar uma política adequada.

"É duro chegar aos 61 anos com um alto nível de HCH no sangue. E o mais duro é chegar num hospital público e não encontrar um médico que possa me atender", disse.

"Minha tristeza não é apenas pela minha condição, e sim pelos meus filhos e netos que também estão contaminados. Ouvimos várias vezes o pessoal do Ministério da Saúde dizer que seria mais barato tirar o povo daqui do que ter o trabalho de descontaminar a região", completou a aposentada, que recebeu em sua casa, neste sábado (16), a visita de ambientalistas, pesquisadores e jornalistas que participam da "Rio+Tóxico" --evento paralelo à Rio+20.

O chamado "pó de broca" é a herança deixada por uma antiga Fábrica de Produtos Profiláticos, desativada em 1960, onde se utilizava como matéria-prima o benzeno --substância altamente tóxica que, transformado em HCH ou DDT, pode provocar câncer, má formação congênita, entre outras doenças. Como a área pertence ao governo federal, o conflito ambiental da Cidade dos Meninos acaba envolvendo uma série de questões políticas, o que faz com que os moradores sejam vistos como posseiros a rigor da lei.

O Ministério da Saúde, responsável pelo terreno, enviou notificações aos moradores em 2005, depois de uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz que indicou que cerca de 30% da população apresentava níveis críticos de contaminação: quase duas vezes mais em relação aos demais. Desde então, não foram feitos estudos sobre o conflito ambiental, e o tão desejado projeto de descontaminação, cercamento e impermeabilização do solo nunca saiu do papel.

De acordo com a associação de moradores, pelo menos 50 pessoas já morreram em função de complicações causadas pelo HCH e DDT. Ainda há grandes quantidades de pó de broca armazenados na Cidade dos Meninos. Segundo informações dos moradores, costumava-se encontrar a substância sendo livremente comercializada em feiras e mercados populares --o que agravou a contaminação em massa.

A retirada dos moradores do local já foi discutida no Congresso e na Justiça, em uma ação civil pública protocolada pelos moradores, que estão sendo representados pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Maurício Guimarães.

"Em 2008, conseguimos um TAC [Termo de Ajustamento de Conduta] assinado pelo Ministério da Saúde e pela Petrobras, que assumiram o compromisso de investir na região, resolver uma parte do problema dessas pessoas custeando a remediação de toda a rodovia Washington Luís. Com isso, o potencial de contaminação seria reduzido", disse o advogado

"Essa área possui 19 milhões de metros quadrados, o que corresponde a duas Nilópolis, é maior do que Nova Iguaçu [os dois municípios citados também ficam na Baixada Fluminense]. Não pode ser simplesmente esquecida. Mas eles [Petrobras] vieram aqui, concluíram a instalação dos dutos [a estrutura faz parte do gasoduto Japeri-Reduc], e foram embora", completou.


PARA ENTENDER O CASO:

Em 1961, a fábrica cessou definitivamente suas atividades, deixando um estoque de 240.760 de iscas rodenticidas (valor estimado segundo registros de produção / consumo); 112.407 litros de Triton X-151, um detergente potentíssimo; 109 tambores de Xilol, e “grande quantidade de resíduos de produção”, sendo estes Pó anti-Culex (“BHC”). Tais quantitativos encontram-se contidos no Relatório final de gestão, elaborado pelo Sr. Diretor, o então Brigadeiro médico Dr. Bijos, apud MELLO, 1999).
Um estudo da FEEMA – Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente - estipulou em 300 toneladas a quantidade de resíduo direto.

Segundo relato dos moradores, a fábrica abandonada foi sendo depredada com o tempo e os tonéis de papelão nos quais o chamado BHC estava acondicionado se romperam e o pó foi se infiltrando pelo solo onde os animais pastavam. A população local deu diferentes usos ao material abandonado: Foi usado domesticamente para matar piolhos e como inseticida de casas e quintais; foi também utilizado como pavimentação da estrada interna; o pó-de-broca era também recolhido do chão pelos moradores e vendido nas feiras livres locais.

VEJA O TRABALHO COMPLETO ACESSANDO O LINK ABAIXO:
http://pedacosdanossahistoria.blogspot.com.br/2008/11/p-de-broca-e-destruio-da-cidade-dos.html


Uma pergunta - Na "Cidade dos Meninos" sobre a responsabilidade do governo federal aconteceu e continua acontecendo sem conseguir reverter a situação o que será que não aconteceu e continua acontecendo com toneladas de organoclorados que estão nas propriedades brasileiras - que ao ser proibido  em 1985 não foi realizado nenhum programas para recolhimento e somente agora -  2011-2012 que esta ainda sendo estudado medidas para recolhimento?


Onde esta a verdade científica por de trás das decisões das empresas e governos para liberar esses produtos para ampla utilização na agricultura e depois descobrir que:


O uso do DDT começou a ser proibido em diversos países por volta dos anos 70, em virtude de seu efeito acumulativo no organismo, dentre os malefícios causados por ele está o enfraquecimento das cascas de ovos das aves, envenenamento de alimentos como carnes e peixes. Alguns estudos sugeriram que é cancerígeno, provoca partos prematuros, causa danos neurológicos, respiratórios e cardiovasculares.

Será que isto não continua ainda hoje acontecendo?

PARA APROFUNDAR:

Mais do que um exemplo isolado de irresponsabilidade, fragmentação administrativa, incompetência, fragilidade dos órgãos oficiais responsáveis pelo meio ambiente, este caso ilustra a gigantesca e perene negligência com a qual se trata a criança pobre brasileira e como se aceita como natural que os riscos da poluição e da contaminação por produtos químicos recaiam sobre a população pobre. O caso também é um exemplo das disputas em torno das verdades científicas: o HCH faz mal aos humanos? Quantas toneladas foram mesmo abandonadas? Qual seria o melhor processo de descontaminação? Quantas pessoas foram contaminadas? Que uso dar à área?


Para ver o trabalho completo acesse:

ORGANOCLORADOS: UM PROBLEMA DE SAÚDE PUBLICA


Um terço dos alimentos consumidos pelos brasileiros está contaminado por agrotóxicos



Estudo mostra que uso de agrotóxicos pode mudar o comportamento de gerações futuras


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