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sábado, 9 de junho de 2012

Seminário discute agrotóxicos e os impactos na saúde

Agrotóxicos e os impactos na saúde e ambiente foi o tema da primeira mesa-redonda realizada na terça-feira (5/6) no Seminário de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotóxicos na Saúde Humana e no Ambiente, coordenada por Rosany Bochner, pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, e composta com a presença dos pesquisadores da Fiocruz e do Instituto Nacional do Câncer (Inca). 'Esse encontro é contra-hegemônico. Estamos vivendo o pacto das elites da economia política com o Executivo, o Legislativo, a Mídia, a Ciência e a Justiça. Um pacto que não pensa na vida, mas no capital.' Assim, o palestrante Fernando Carneiro, do Grupo de Trabalho Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), abriu sua apresentação. Confira o áudio das palestras na Biblioteca Multimídia da ENSP.

Carneiro pontuou sete lições que podem ser apreendidas das discussões e artigos produzidos pela Abrasco. A primeira é que a relação agrotóxicos-saúde deve ser estudada no contexto da modernização agrícola conservadora. “Somos um celeiro do mundo, mas os donos das sementes no Brasil são os grupos internacionais.” Outra questão necessária e urgente é o desocultamento dos agravos da saúde relacionado aos agrotóxicos, e, portanto, a maior relevância à caracterização dos riscos. A terceira lição é a significativa eficácia do Estado no apoio ao agronegócio e sua expansão. “São R$107 bilhões para o novo plano agrícola e agropecuário”, disse ele, e perguntou: “Quanto a saúde recebe para fiscalizar essas ações?”

A campanha Agrotóxico mata já foi lançada em 48 cidades, e 173 entidades participam das ações. “Isso demonstra que os setores da sociedade ligados a organizações do meio rural é que vêm desempenhando papel importante nas políticas públicas de combate aos agrotóxicos e em defesa da saúde”, assinalou Carneiro como a quarta lição apreendida. A quinta é a importância dos estudos sobre o tema, no sentido de contribuir para a desconstrução dos mitos que sustentam o modelo de Revolução Verde.

Para Carneiro, “a ciência está diante do desafio de contribuir para a construção do paradigma emergente fundado no compromisso ético-político com os mais vulneráveis e , por isso”, disse ele, “a pesquisa também tem de fazer campanha, poesia em cordel, almanaques instrutivos”. E a última lição, concluiu, são as alternativas agroecológicas de vida que as comunidades camponesas vêm construindo no semiárido brasileiro.



Karen Friedrich, pesquisadora do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde, informou que a ingestão diária aceitável de agrotóxicos nos alimentos segue um modelo linear de dose e efeito, mas esse paradigma é rompido pelos carcinógenos genotóxicos presentes no defensivo agrícola, para os quais não existe limite seguro.

 Segundo Karen, estudos recentes têm comprovado que a exposição humana a baixas doses de agrotóxicos causa desregulação endócrina e imunotoxidade. A desregulação endócrina gera efeitos como alterações nas funções hormonais, responsáveis pelos processos neurocomportamentais, reprodutivos, nas funções cardiovasculares, renais, intestinais, neurológicas e imunológicas.

No caso da imunotoxidade, disse ela, podem ocorrer reações alérgicas e de hipersensibilidade ou imunossupressão, tornando as pessoas mais suscetíveis ao aparecimento de tumores ou à infecção por patógenos. Os períodos mais críticos são o pré-natal e pós-natal, quando se desenvolvem os sistemas nervoso, endócrino e imunológico.

A pesquisadora da área de Vigilância do Câncer relacionado ao Trabalho e ao Ambiente do Inca, Márcia Sarpa de Campos Mello, trouxe dados sobre a mutagênese e a carcinogênese em relação aos agrotóxicos. Em sua palestra, falou do aumento rápido da incidência de câncer nos últimos anos. O Inca estima, para 2012, 518 mil novos casos da doença no Brasil, classificando-a como a segunda causa de morte no mundo, ficando atrás somente das doenças cardiovasculares. Ela concordou com a palestrante Karen Friedrich e reafirmou que os agrotóxicos podem exercer efeitos carcinogênicos como a genotoxidade, promoção de tumor, ação hormonal e imunotoxidade. Também citou alguns exemplos de alimentos com potencial mutagênico e carcinogênico, como maçã, cenoura, pimentão, pepino, abacaxi, laranja, alface e beterraba, assim como aumento de leucemia, câncer de próstata, pulmão, linfoma não Hodgkin e melanoma cutâneo, doenças observadas em agricultores americanos expostos a agrotóxicos.

 
Por fim, considerou que a maioria dos casos de câncer (80%) está relacionada ao ambiente (água, terra e ar, alimentos, medicamentos, estilo e hábitos de vida, indústrias químicas, agricultura e afins), no qual é encontrado grande número de fatores de risco.

O último palestrante foi o pesquisador Jorge Machado, da Fiocruz Brasília, que expôs a relação do uso intensivo de agrotóxicos com o padrão de acumulação insustentável, com a articulação da saúde e os pilares econômico, social, ambiental e desenvolvimento sustentável, com a construção de políticas públicas de vigilância em saúde, com o padrão de exploração capitalista (economia verde), e com a transição agroecológica/novo campesinato. Quanto aos eixos de intervenção, Machado considera como importantes a atenção à saúde da população exposta, promoção da saúde, agenda integrada de estudos e pesquisas, bem como a participação e controle social.

O Seminário de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotóxicos na Saúde Humana e no Ambiente foi promovido pela Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), pela Escola Nacional de Saúde Pública o Instituto Nacional do Câncer (Inca), entre outras instituições. Seu objetivo foi compartilhar experiências e formar uma rede em defesa da segurança e soberania alimentar e proteção ao trabalhador contra os impactos dos agrotóxicos, para a promoção da saúde ambiental e humana.

Fonte: http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/30423


Se olharmos o acompanhamento que faz a ANVISA sobre os resíduos dos alimentos que tem provocado muita polêmica - ao informar que determinados alimentos estão acima DO LIMITE PERMITIDO .

http://muralvirtual-educaoambiental.blogspot.com.br/2011/12/agrotoxico-irregular-aparece-em-28-dos.html



Vejamos que nesta matéria o limite permitido (ingestão diária aceitável) é questionado porque também não é seguro, destaco abaixo um trecho:


Karen Friedrich, pesquisadora do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde, informou que a ingestão diária aceitável de agrotóxicos nos alimentos segue um modelo linear de dose e efeito, mas esse paradigma é rompido pelos carcinógenos genotóxicos presentes no defensivo agrícola, para os quais não existe limite seguro.


O que a pesquisadora coloca no parágrafo acima vem de encontro com outra fonte:


A documentarista Marie-Monique Robin em seu novo filme – O VENENO NOSSO DE CADA DIA denúncia:


(...) apenas 10% das substâncias que estão presentes no nosso dia-a-dia foram testadas. E mesmo assim, esses testes sempre foram feitos com forte influência dos fabricantes. Representantes da indústria química chegaram a dizer que seu “o livro envenena a indústria química”.


Ela ainda vai além...


Ingestão diária aceitável – IDA – é um valor numérico, medido em mg/kg, que determina a quantidade que se pode consumir de uma substância durante todos os dias, com segurança, por toda a vida.[1] Na prática, para os agrotóxicos por exemplo, determina qual limite máximo de resíduo aceitável em um alimento. Era de se esperar que este índice fosse calculado com um alto grau de rigor científico, para que em nenhum momento colocasse a vida dos consumidores em risco.


Mas Marie-Monique nos mostra justamente o contrário. No mesmo estilo investigador de “O Mundo Segundo a Monsanto”, a diretora percorre centros de pesquisa e agências reguladoras em vários países tentando descobrir como este índice é definido. E ela não deixa dúvidas: através de estudos científicos pagos pelas empresas, e com a ajuda diretores de agências reguladoras com ligações com a indústria, os próprios fabricantes das substâncias é que definem o nível aceitável.


http://muralvirtual-educaoambiental.blogspot.com.br/2011/11/sistema-de-producao-agroecologica-e.html


Enfim... o  limite de ingestão diária de agrotóxicos que dizem ser seguro é questionado, ou seja, o que já é ruim pode ser pior.


Para aprofundar:

Estudo mostra que uso de agrotóxicos pode mudar o comportamento de gerações futuras

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